Nossa proposta aqui é analisar sistemas em que diversas origens culturais se encontram, seja entre cônjuges, seja entre pais e filhos. Essas relações interculturais orientam a organização do sistema, suas necessidades e suas problemáticas, assim como seus pontos fortes e suas fraquezas. Meu foco inicial concentra-se na relação entre pais e filhos: a primeira geração fez a viagem migratória e a segunda nasceu em terra de exílio. Para nós, terapeutas, essas relações pais e filhos acumulam dificuldades específicas: diferenças geracionais, culturais, nos hiatos existentes entre os valores culturais de “casa” e os do exterior, da sociedade de acolhimento – relativas à solidão dos pais, que não podem contar com o apoio da sociedade para transmitir seus valores familiares e culturais.O roteiro – pais migrantes com filhos nascidos em terra de acolhimento – parece-nos muito significativo quanto à condição de diferença ou de especificidade que os filhos podem vivenciar. Em alguns casos, eles não se sentem pertencentes à sociedade em que evoluem e permanecem inscritos na cultura de seus pais. Esse descompasso, bastante evidenciado na literatura a respeito dos pais migrantes, foi bem menos evidenciado no que se refere aos filhos, como se os efeitos da migração desaparecessem com a geração nascida no país de vida.Com essas famílias, nosso trabalho focaliza as questões da migração e seu impacto relacional sobre os membros do sistema, bem como as consequências do evento migratório para as gerações seguintes. Nesse sentido, diversos ângulos de leitura dos subsistemas família surgiram na nossa experiência: a relação do casal, a questão da transmissão da língua, o desempenho da sociedade de acolhida no investimento no país de acolhimento e sua cultura.