O deserto na literatura tem sido usado como metáfora que representa as grandes viagens. Afinal, é um lugar que não é lugar nenhum e lá encontramos apenas os viajantes, que sobrevivem no limiar entre Sol e sombra, morte e vida. Sonora é o nome do deserto usado pelos imigrantes para conseguirem entrar ilegalmente nos Estados Unidos, ou seja, a metáfora invade a vida e se torna algo literal. Não há paisagem mais oportuna do que tal local para dar início ao vai e vem de Nora, personagem central do primeiro romance de Luciana Franco publicado pelo Grupo Editorial Quixote.A obra segue a história de Nora, uma mulher trans que vive transitando por limiares de sua identidade, tanto de gênero, quanto cultural. Suas decisões são tomadas por motivações internas, e no fundo, quer ser alguém que é alguém, deixando o deserto para trás. A narrativa de Sonora tem um trunfo, é Nora. As suas questões não são as mesmas questões do leitor. Para Nora, ficcional, mas verdadeira, é sobreviver sem ter escolhas, já que o seu destino é o destino limitado pelas escolhas da autora. Para o leitor, é refletir, e escolher por qual deserto fará a sua jornada e com quem.